A terapia denominada Constelações Sistêmicas foi criada por Bert Hellinger a partir de sua observação do trabalho de Virginia Satir, na década de 70, e que encontra uma explicação também na física e biologia descrita por Rupert Sheldrake como campos morfogenéticos. Nascemos no seio de uma família que é um sistema. Todo e qualquer sistema pede o equilíbrio para sua existência. Quando ocorre algum evento que afeta um dos membros do sistema familiar gera um “nó ou emaranhamento”, desequilibrando-o e gerando consequências. Tais consequências manifestam-se na vida de um dos membros desse sistema no corpo físico (doenças, transtornos ou outros sintomas), no desenvolvimento profissional, afetivo-relacional ou financeiro. A terapia irá investigar a causa e buscar a cura. Para o “campo” das constelações não existe julgamento de valores, pois cada pessoa age a partir de razões que, para ela, sempre são justas e corretas. As Constelações – inicialmente denominadas apenas de constelações familiares – estão ancoradas em três ordens denominadas “ordens do amor”, que são:

– Pertencimento: cada um de nós tem um lugar em seu sistema familiar.

– Precedência: quem nasceu primeiro no sistema tem precedência sobre quem nasceu depois.

– Equilíbrio entre dar e receber: os relacionamentos dos componentes do sistema são regulados pela troca equitativa.

Vamos exemplificar cada um desses pilares e seus respectivos emaranhamentos começando pelo Pertencimento. Cada ser humano tem seu primeiro lugar como filho(a). Suponhamos que essa pessoa tenha infringido as regras dessa família e por isso tenha sido banida do convívio. Essa exclusão gera um emaranhamento e outro integrante desse clã, mesmo que gerações à frente, irá se vincular a essa exclusão gerando dificuldades para si em alguma área de sua vida. Uma das exclusões mais comuns é vista através dos abortos. Vale ressaltar que para o sistema familiar não há distinção entre aborto espontâneo ou provocado. Havendo um primeiro aborto e nascendo um filho depois, esse que nasceu tem seu lugar de pertencimento como segundo filho, pois o primeiro filho foi o aborto, ou o natimorto.

A Precedência também pode ser explicada pela hierarquia. Quem nasceu antes de nós chegou primeiro e, portanto, deve ter nosso respeito como tal. Desse ponto de vista são considerados “maiores” e nós somos “menores”. Quando um(a) filho(a) se considera melhor ou mais maduro que um dos pais está se colocando em posição igual ou superior a esse progenitor, infringindo dois pilares das constelações, o do pertencimento pois está saindo de seu lugar de filho(a) para o de pai ou mãe do progenitor, e a precedência, pois se coloca como tendo chegado antes dos pais na vida.

O Equilíbrio entre Dar e Receber está na troca equilibrada em qualquer tipo de relacionamento. Há apenas um momento em que é natural haver desequilíbrio: quando nascemos, pois somos incapazes de sobreviver sem que alguém supra nossas necessidades com alimentação e demais cuidados. Nessa etapa da vida apenas recebemos mas, à medida que crescemos e amadurecemos, vamos aos poucos podendo tomar menos de nossos pais ou responsáveis e retribuir. Quando temos filhos ou criamos empresas podemos definitivamente restabelecer o equilíbrio, pois vamos inicialmente dar muito mais a eles do que recebemos. Qualquer relacionamento entre dois adultos onde um dá mais que o outro gera emaranhamento e, mais cedo ou mais tarde, está fadado à ruptura.

A partir desses conceitos é possível olhar para um Mapa Natal com essa visão sistêmica, fazendo abordagens de diagnóstico dos emaranhamentos e procurando a cura. A postura do astrólogo diante do cliente deve ser sempre a de não julgamento, exatamente como as constelações preconizam. Aspectos, planetas e signos não são bons ou maus, eles mostram possibilidades de uma realidade que se concretizará, ou não, a partir das escolhas pessoais.

Exclusões podem ser vistas nos planetas sem aspectos maiores, nos que são muito aspectados ou nos que são “alça do balde”. O não pertencimento pode ser visto principalmente na Casa 4, que são as origens, a base familiar e a ancestralidade. No Mapa abaixo temos Plutão regente da Casa 12 sem aspecto na Casa 8, e Sol regente da Casa 8 na Casa 12. Esse homem abusava sexualmente dos filhos, tendo ele mesmo sofrido abusos sexuais na infância. Perdeu o pai precocemente. A falta de vínculo através do masculino pode ser visto com o posicionamento do Sol regente da Casa 8 na Casa 12, e Plutão regente da 12 na Casa 8.  A constelação mostrou a falta de vínculo com o masculino por parte de pai, proveniente de uma exclusão do avô paterno no sistema familiar do país de origem.

O Mapa seguinte é de um homem identificado com a falta de vínculo feminino por parte da mãe. Sua constelação mostrou que estava identificado com a avó materna que não fez vínculo com sua mãe (a bisavó do constelado), e que por esse motivo também não fez vínculo com a filha (mãe do constelado). Mercúrio – dispositor da Lua – faz um aspecto menor de quincunce com Júpiter, e um trígono para o MC, mostrando que também há um emaranhamento pelo lado paterno, pois os dois planetas regentes das Casas 4 e 10 também estão em aspecto de tensão. Uma constelação para esse tema “pai” ajudará no desenvolvimento da vida profissional. Para Bert Hellinger a prosperidade tem a face da mãe, e a força vem do pai. É necessário tomar a vida de quem nos dá – nossos pais – aceitando-os como são.

A precedência transgredida pode ser vista claramente no Mapa abaixo de um rapaz que assumiu o sustento da família colocando-se no lugar do pai quando o mesmo ainda estava vivo. O pai morre quando ele está com 28 anos vivendo o primeiro retorno de Saturno, reforçando sua responsabilidade como arrimo de família (mãe e irmãos mais novos). A constelação mostrou que ele estava maior que o pai, com emaranhamento na precedência e no pertencimento pois estava se colocando no lugar de pai do próprio pai. Ele veio constelar uma questão profissional, pois não conseguia manter o êxito nos negócios que empreendia. O “lugar do pai” no Mapa é visto ou na Casa 4 ou na Casa 10. Temos Saturno angular na Casa 4.

O Equilíbrio entre Dar e Receber é visto nos eixos, notadamente Casas 1 e 7, mas também pode ser visto por concentração de planetas no primeiro e quarto quadrantes, ou no segundo e terceiro quadrantes. O Mapa a seguir é de uma mulher extremamente generosa, que está sempre disposta a cuidar dos mais necessitados, carentes e enfermos da família. Desenvolveu várias doenças psicossomáticas e mantém um relacionamento de total subserviência ao companheiro.

O caso a seguir é de uma criança cujo pai sofreu um acidente dias antes de seu nascimento, vindo a falecer assim que ele nasceu. A queixa da mãe era de que ele se colocava em situações de risco físico, além de severos sintomas físicos sem origem conhecida, apesar de investigação médica. Marte, regente da Casa 8 angular na Casa 4 em oposição ao regente dessa Casa, Júpiter, que está na Casa 10. Plutão na Casa 4 em quadratura a Lua-Urano. Mercúrio regente do ASC e da Casa 10 em quadratura com Netuno, sextil Vênus na Casa 1. Sol regente da Casa 12 em conjunção com Saturno e quincunce com Lua conjunção Urano na Casa 7.  A constelação mostrou o vínculo forte com o pai, e falta de vínculo com a mãe. Outras mortes precoces e trágicas na família paterna também foram relatadas.

Os trânsitos, progressões e lunações no Mapa Natal também são importantes, pois apontam áreas e temas onde o cliente está mais receptivo, mais aberto a mudanças de padrões. Retornos planetários também têm um peso grande pois reativam os emaranhamentos existentes possibilitando soluções. No exemplo abaixo a moça sofreu abuso sexual paterno na tenra infância. Durante algum tempo isso ficou esquecido, mas na adolescência ela foi aos poucos se lembrando. Já casada e com dificuldade para engravidar fiz um atendimento unindo astrologia e constelação, exatamente quando Júpiter fez um trígono exato para Vênus do Mapa Natal, com Marte transitando na Casa 8 e Saturno na Casa 5 em conjunção com Júpiter. O resultado foi uma gravidez ocorrendo poucos meses após, culminando com o nascimento de seu primeiro filho. Vênus é regente da Casa 10 (pai) e está sem aspecto no Mapa Natal.

Esses são alguns poucos exemplos de como o Mapa Natal auxilia o constelador a encontrar rapidamente o foco para a constelação, bem como o diagnóstico sistêmico-astrológico pode indicar que uma constelação seja feita, terapeuticamente atuando e curando nas dificuldades do cliente. Sendo o astrólogo também constelador ele pode, durante o atendimento astrológico, usar as frases de cura da constelação, ou fazer um exercício sistêmico objetivando resolução de conflitos.

Há vários outros fatores presentes no Mapa Natal que podem ter essa leitura sistêmica, inclusive com os planetas “ganhando voz” e interpretando suas posições terrestres através de representantes. Com a prática e a experiência que dela advém é possível sermos mais assertivos em nossa tarefa de ajudar a quem nos procura. No início, Bert Hellinger denominava de Constelação Familiar, mas foi descobrindo que que para onde formos levamos nossos campos e sistemas familiares, portanto no trabalho, na escola, na vida em sociedade estamos sempre interagindo conforme o que levamos de nossos antepassados. Por isso Hellinger passou a usar o termo Constelação Sistêmica, com suas subdivisões pois temos hoje o Direito Sistêmico e a Pedagogia Sistêmica. Alunos com dificuldades podem ser olhados sob a ótica das constelações, e conflitos jurídicos também podem se beneficiar das intervenções sistêmicas. Onde houver um ser humano e sua complexidade vivencial haverá uma solução e, de um lugar de neutralidade e não-julgamento a astrologia e as constelações poderão ser parte dessa solução.