Temos agora, em 2020, uma grande oportunidade de vivenciar os planetas exteriores, notadamente Urano. Enquanto Júpiter, Saturno e Plutão estão de mãos dadas em Capricórnio, as funções de um se mesclam com a dos outros, mas Urano está isolado em Touro. A partir de agora ele não mais retornará ao signo de Áries. O signo de Touro tem as qualidades de segurança, conforto, bem estar, persistência quando no lado positivo, e teimosia, postergar, apego a coisas materiais e padrões de comportamento no contrário.
Urano é o regente moderno do signo de Aquário e algumas de suas funções principais são inovação, criação, revolução, diferenciação, modernidade, desapego, deslançamento e tudo isso olhando para o homem em um contexto macro, em sociedade e dentro de um sistema. Seria esse posicionamento uma boa indicação de que entramos com os dois pés na era de Aquário?
Em maio de 2018 Urano entrou em Touro, retrogradou, e em março de 2019 voltou a entrar nesse signo e mantém seu caminhar. Touro é um signo do elemento terra, portanto mais afeito à matéria, ao concreto, a realizações financeiras, a lidar com dinheiro, fazer contas, precificar. É um signo sensorial, do toque de mãos e bem estar físico. Dos cuidados com a beleza e o corpo. Urano modifica padrões, traz o novo mas também quebra algo que já estava confortavelmente instalado. Bert Hellinger, em sua autobiografia, diz que “o velho envelhece assim que o novo chega. Então, pode terminar. E tão logo termine para nós, nosso olhar e nosso movimento podem seguir para frente. Se pararmos nesse movimento, o novo também para. Em vez de vir, falta. O novo envelhece o velho…..Se uma coisa deve durar para sempre, já envelheceu….O novo renova o velho. Substitui-o apenas até ele próprio se afastar do próximo novo. O velho continua entrando no novo e sendo absorvido por ele.” O velho é Saturno e Plutão. O novo é Urano.
Quando o Covid-19 virou pandemia e começou a circular pelo mundo, Vênus estava de mãos dadas com Urano. O Sol estava de mãos dadas com Netuno e, bem simplificadamente, podemos dizer que Netuno dissemina, o Sol ilumina e Peixes dá o tom do sacrifício: retirar-se do mundo, isolar-se, acreditar que estamos sob uma força maior, à mercê de algo que não controlamos.
Tudo isso é a cara desse momento mundial agora. Um vírus se dissemina mundo afora e mexe com todas as estruturas: econômicas, psíquicas, físicas e padrões comportamentais. O velho a que Bert Hellinger se refere pode ser as formas de comunicação já instauradas: redes sociais, whatsapp e outras telemensagens. Já estávamos acostumados a isso. Agora se chega ao extremo solicitando nenhum contato físico, e distância física de dois, três metros. Como uma ducha de água fria percebemos que é importante pegar, beijar, abraçar, dançar de rosto colado, socializar. Quarentena em casa com jeito de prisão. Momento excelente para refletir sobre as formar como estamos interagindo. Para onde caminha a sociedade da internet, da conexão online, do home office. A liberdade de ir e vir entre cidades e países está ameaçada, ou contida.
Chegamos agora à entrada do Covid-19 no mundo e em nossas vidas. Estávamos imersos em um mundo cada vez mais conectado. Várias vezes, em restaurantes, vi mesas onde no lugar de conversar entre si as pessoas estavam com seus celulares na mão, digitando, lendo, totalmente alheias aos demais à sua volta. Pessoas portando dois ou mais celulares. O mundo digital se, por um lado, aproximou pessoas em pontos distantes do mundo, podendo se falar e se ver, por outro facilitou a transmissão de informações tanto verdadeiras quanto falsas.
O signo de Touro é fixo, e já traduzo o que isso significa: manter o status quo, ficar no conhecido e desejar continuar fazendo a mesma coisa, com a expectativa de que conseguiremos atingir os objetivos de acordo com o planejado. Nesse momento temos a perda de expectativas, de projetos e planos e de esperanças no futuro. Porque o futuro que imaginávamos não mais existe. Mais do que não saber o que o futuro trará vivemos a insegurança gerada por não podermos controlar absolutamente nada do que poderá acontecer daqui a um dia, uma semana ou um mês. Uma agenda cheia, de um dia para o outro foi cancelada. Dizem que quando os deuses querem nos castigar eles atendem nossos pedidos. Quantas vezes você suspirou ao dizer que “gostaria de viver sem agenda”? Quantas vezes dissemos que “gostaríamos de ter mais tempo para curtir a família, os filhos, os amigos, ler os livros comprados e guardados sem abrir”? Esse momento chegou. Esse é o lado positivo do Urano, que altera rotas bruscamente. Agora temos tempo de sobra, e time is money, lembra? Temos uma moeda preciosa agora, a possibilidade de nos reinventarmos e sermos criativos. Ler, ouvir música, deitar na rede, apreciar o por-do-sol da janela de casa, curtir os familiares .
A grande preocupação não apenas do governo mas de cada pessoa física é também com a economia. Existe sim o fantasma do desemprego, o súbito encolhimento financeiro dos autônomos e das pessoas que trabalham na informalidade. Mais uma vez são efeitos de Urano em Touro, pois Touro diz respeito às finanças pessoais e à área financeira como um todo. Respire fundo e lembre-se que todos – governos, países, pessoas – estão sendo afetados em maior ou menor escala. A vida econômica pós-Covid-19 afetará a todos. Arrisco dizer que as tabelas de preços dos profissionais baixarão até se adequar a uma nova realidade. Já estamos vendo inquilinos negociando redução do aluguel. Há um convite a que mudemos a forma de distribuição de renda, ou à forma como usamos nossos recursos. Precisamos desenvolver um olhar generoso e amoroso para os mais necessitados. Multiplicam-se ações de filantropia, gorjetas mais generosas para o motoboy que se arrisca para trazer a refeição solicitada por um aplicativo, online ou por telefone.
O próximo assunto é o autovalor, tão bem inserido em Touro. Como queremos ser vistos e lembrados. Gostamos de conforto e de nos presentear com o melhor possível. Agora entramos no tema que perpassa o inconsciente e o consciente de todos os humanos agora: a morte. Enquanto a morte por Covid-19 não chegar ao nosso círculo mais próximo, de parentes em segundo e primeiro grau, ela não passará de um número ou porcentagem que vemos nos noticiários. Quando chegar assim pertinho essa porcentagem chegará a um número absurdo. Ouvindo a dra. Ana Cláudia Quintana Arantes, geriatra e especialista em cuidados paliativos, ela disse que quando morre uma mãe, pode ser apenas 1% das mortes totais, mas quando morre sua mãe a sua perda é de 100%. E ela segue dizendo que essa morte de uma mãe não é apenas uma morte, ela representa muitas mortes, pois com ela morre uma filha (se ela tiver pais vivos), morre uma irmã (se tiver irmãos), morre uma esposa, morre uma cunhada, morre uma tia para os sobrinhos, morre uma avó se tiver netos. Ficando apenas nessa contabilidade essa morte de uma pessoa representa sete mortes. Isso também leva à reflexão sobre o que desejaríamos ver escrito em nosso obituário, em nossa lápide ou no discurso de um amigo ou parente antes do enterro ou cremação. Pense bem nisso e, se ainda não fez algo que considere legal para ser dito ou escrito nesse momento, agora é a hora de tomar uma atitude e escrever seu obituário com alegria. Porque, sinto muito dizer, de Covid-19 ou qualquer outra coisa, iremos todos morrer. A diferença entre morrer bem, pacificado e leve está em como vivemos até o momento final. A única certeza da vida é a vida, portanto vamos “contar nossos dias de forma que alcancemos corações sábios”, como está escrito na Bíblia. Alcançar coração sábio é isso, trazer significado para cada dia de nossa vida, enquanto estivermos vivos.
Sabemos que dormir é um ensaio para a morte. Ouvi da psicóloga, mestre em Arteterapia Patricia Pinna Bernardo que, além de dormir, é necessário sonhar para não alucinarmos. Os sonhos trazem, simbolicamente, mensagens do inconsciente que muitas vezes não conseguimos lidar conscientemente. Como uma válvula de escape ou o “ladrão” da caixa d’água. Dormimos para poder acordar no outro dia com a possibilidade de começar algo novo. Morremos para transpor um limite. Não sabemos o que acontece depois de nossa morte, mas podemos ter crenças de uma continuidade, ou mesmo de um fim em si. Coletivamente a humanidade passa por essa sensação de proximidade com a morte. Por mais que tenhamos acumulado bens, feito uma poupança ou guardado dinheiro para um passeio diferente no final de semana, isso agora está em suspenso. Isso não nos salvará da presença da morte. Ela pode chegar na embalagem da compra do supermercado, no botão do elevador, na pata do cachorro que levamos para um passeio, no espirro da pessoa que está correndo à nossa frente na calçada, no assento do metrô ou ônibus. Tudo e todos são possíveis transmissores. Portanto agora, mais que nunca, precisamos nos proteger fisicamente, mas também emocionalmente através de sonhos, da criatividade para preencher nosso cotidiano com atividades prazerosas e dormindo bem, para sonhar, para dar vazão aos temores e inquietudes.
Algumas pessoas estão passando bem por esse período. São aquelas que já tinham o costume de olhar para dentro de si, que trilharam o caminho do autoconhecimento, do autodesenvolvimento e que, a partir desse lugar interior, podem olhar inteiras para tudo e todos à sua volta. Outras, corriam atrás de tantas coisas fora que não tinham tempo para olhar dentro de si. Para essas o momento é crucial: ou respiram, aquietam a ansiedade e se reinventam, ou precisam procurar ajuda de outra pessoa para aprender esse caminho. Lembra do “ninguém solta a mão de ninguém”? Pois é, mesmo que a mão estendida seja virtual, é a única possibilidade agora, e sempre haverá uma mão, um ouvido e uma ajuda que chegará via internet.
Vamos falar agora dos profissionais de saúde que estão na linha de frente. Desde sempre ouço que a maioria dos médicos se considera Deus, com poderes sobre a vida e a morte. Nem todos pensam ou agem assim, com certeza, mas esse vírus colocou-nos todos a nu. Aqueles médicos que sempre souberam de seus limites e olharam para seus pacientes como um ser humano que tem corpo, sentimentos e alma, esses estão se desdobrando como sempre fizeram e, caso tenham uma perda de paciente por Covid-19 sentirão muito, mas saberão ter feito o melhor que podiam. Os outros pequenos “deuses” talvez tenham um desconfortável sentimento de vazio, pois perderam a batalha para algo microscópico. Buscarão desculpas mais para si que para a sociedade. Poderão terceirizar culpa (e algumas verdadeiras) para a falta de EPIs, de leitos, de respiradores, comorbidades, etc. No geral, o que vemos é que o vírus está mostrando que todos são humanos, falíveis, mortais. Médicos, enfermeiros, atendentes hospitalares, motoristas de ambulâncias, profissionais intensivistas e todos que estão nessa cadeia de atendimento ao paciente com o vírus estão podendo, finalmente, mostrar que são humanos e não super-homens, super-mulheres. Finalmente podem respirar e mostrar que são humanos. Cada um, com os equipamentos que possuem, com os recursos disponíveis estão dando o melhor de si. Quando retornam a suas casas ainda têm que ficar isolados dos familiares. Sim, os valores estão mudando e, espero, para melhor.
Quando Pandora abre a caixa e todas as desgraças colocadas pelos deuses ali dentro saem: guerra, doenças, inveja, maledicência, discórdia e dores da alma, ela se assusta e fecha a caixa. Um único dom havia sido colocado lá dentro: a esperança, e essa é a única que fica fechada, dentro da caixa. Não sabemos que mundo nos espera pós-Covid-19, mas como humanos temos a capacidade de sonhar e esperar (esperançar) que algo novo, bom e positivo ficou guardado dentro dessa caixa. Cada um de nós pode dar uma qualidade, adicionar uma palavra a essa esperança. A minha é solidariedade. Qual é a sua?