Amigas me falaram que o filme Coco – A Vida é Uma Festa é uma Constelação Familiar. Sim, é. Intencional ou não, o filme mostra os emaranhamentos, os nós que atam as pessoas a seus ancestrais. Perfeitamente retratadas as Ordens do Amor, os três pilares das Constelações Sistêmicas que são a Precedência, o Pertencimento e o Equilíbrio entre o Dar e Receber.
Dando um passo para trás para olhar e ver o filme em um contexto mais amplo veio a sintonia entre as celebrações do Dia de Los Muertos e a forma como os japoneses celebram seus mortos. Os indígenas e, segundo relatos, os maias e astecas também honravam há mais de três mil anos seus ancestrais mortos com alegria, música e comidas. Nos dias das celebrações os mortos têm permissão para retornar e reencontrar-se com seus familiares. São colocadas fotos dos ancestrais juntamente com as oferendas de comidas. Em outros locais do mundo existem festas correlatas.
Os japoneses – e aqui honro o sistema familiar de meu marido no qual também fui incluída – possuem oratório onde há ícones de madeira para cada um dos falecidos na família. Assim que morre alguém é confeccionado o ihai com o nome de registro, data de nascimento e morte e o nome que é dado pelo monge ao espírito falecido. Esse ícone é entregue aos ascendentes ou descendentes imediatos para que seja colocado no oratório onde, frequentemente, são deixadas frutas ou pequenas porções de comida da preferência do falecido. Dessa forma respeita-se a ordem do pertencimento e da precedência.
É muito importante que todos os antepassados sejam lembrados, que suas histórias sejam contadas e que permaneçam não apenas na memória como também no coração dos descendentes. Da mesma forma que no filme não se fala em perdão, mas sim em lembrar-se e incluir a foto do falecido no altar de honra. Não importa o que nossos antepassados fizeram e não nos cabe julgar suas atitudes, o necessário é colocá-los em seus lugares de direito e, dessa forma, a ordem estará restabelecida e todos poderão cumprir seus destinos com plenitude.
Além do olhar para o filme pensando nas Constelações Sistêmicas, também é possível olhar pensando na Astrologia. O tetravô foi excluído do sistema familiar porque foi atrás de seu sonho de ser músico. A família, abandonada e ressentida, proíbe a música dentro de suas casas. A esposa abandonada começa a fazer sapatos. A alusão a Netuno é clara pois ele representa a música, o mundo artístico, os sonhos e também os esquecimentos e enganos. Ele rege o signo de Peixes que, por sua vez, está associado aos pés. Na trama encontramos enganos, mentiras e dons musicais. A inspiração que nada mais é senão uma intuição que “vem de outro mundo” e se torna presente através de uma ideia clara que, em seguida é plasmada em algo concreto.
Repito que, intencional ou não, o filme traz a Astrologia e as Constelações para nossas discussões e reflexões. Adultos e crianças se beneficiam ao assisti-lo e nossa alma agradece.