Quando uma separação se dá em condições de litígio, desavenças e brigas, os filhos ficam entre ambos e às vezes se transformam em objeto de barganha. Quando a guarda fica com um dos pais, ou mesmo na guarda compartilhada, a justiça estabelece datas e periodicidades.

Na guarda concedida a um dos pais (compartilhada), esse fica responsável pelos cuidados com o filho, e geralmente o outro pai ou mãe eventualmente leva a criança para passar um dia, um final de semana ou em feriados combinados. Nesse caso podemos pensar na criança como um objeto de propriedade de uma pessoa, e que ela o empresta ao outro por condescendência. Na guarda alternada o “objeto” fica um período “emprestado” com uma pessoa, e outro período com a outra. Dependendo de como cada cuida desse filho enquanto o tem próximo, a criança pode sentir-se segura ou instável. Outras vezes o pai/mãe simplesmente se vai após a separação, e a criança fica então em contato permanente com apenas um dos genitores.

A definição de guarda é vigilância, proteção e cuidados; ato de ter (alguém ou alguma coisa) sob sua guarda; abrigo, amparo. Quando a criança não recebe esse mínimo dos pais o Estado pode intervir e retirar a guarda. No melhor dos mundos os pais, mesmo separados, continuam convivendo com os filhos, partilhando decisões e amparo, sem tecer comentários desabonadores sobre o ex-cônjuge. Agir dessa forma minimiza nos filhos a sensação de culpa por se dar bem com um ou ambos. Nessas condições o filho se sente realmente protegido, e segue a vida sabendo que sempre terá o seu lugar na vida de cada um, e também seguirá leve podendo levar em seu coração os pais. Fora dessas condições, todas as vezes que um ex-cônjuge critica ou fala mal do que está ausente diante do filho, traz para a relação um peso desnecessário e danoso.

Um sistema familiar equilibrado dá lugar a todos, sem julgamentos ou acusações. O que quer que um cônjuge tenha feito ao outro, isso deve ficar na esfera do casal, sem passar para o escrutínio dos filhos. Uma coisa é a relação conjugal, e outra é a relação pais e filhos. Mesmo em uma guarda compartilhada, o genitor que fica com a responsabilidade da criança deve permitir que a criança vá, livre de culpas e opiniões, ao encontro do outro genitor. Reter um filho na esfera única da mãe ou do pai é deixá-lo incompleto, apenas com metade da força que deveria ter dentro de si. O mais difícil talvez seja permitir que a criança se conecte com a vida que recebeu de um dos pais, quando esse foi um abusador, ausente ou mesmo estuprador. Independente dos atos praticados pelo pai ou pela mãe, o bem maior da criança que é sua vida veio através desse perpetrador. Esses atos são tratados na esfera do judiciário, com os respectivos apenamentos, mas existe algo inegável e sem adjetivo: a vida que foi gerada a partir do encontro dos pais. A criança que recebe essa vida e a toma dentro de si, será capaz de fazer algo de bom com ela, diferente do que seus genitores fizeram.

Também existem pais que criam os filhos sozinhos e dizem que são “pai e mãe”, e vice-versa. Na prática o que se vê é a pessoa em seu lugar de direito, e saindo dele para ocupar o lugar do cônjuge, em sua ausência. Essa é uma forma, muitas vezes inconsciente, de manter os filhos presos em sua esfera, sem a liberdade de olharem e caminharem para o outro genitor.

Na visão preconizada por Bert Hellinger, o criador das Constelações Familiares, cada indivíduo precisa da força masculina e da feminina para seguir com passos firmes na vida. Mesmo quem não sabe quem são seus pais biológicos tem a consciência de que foi gerado por duas pessoas, e pode internamente se reconciliar com essas duas forças. Bert Hellinger vai mais adiante e diz que a prosperidade tem a face do feminino, e a conexão com essa força permite ter acesso à abundância, enquanto que a força masculina traz a conexão com a energia para travar lutas e obter êxitos.

Pais, independentes de estarem juntos ou separados, que desejam o melhor para seus filhos precisam, de coração, liberar os filhos para irem leves e sem pesos até o outro genitor. Filhos conectados integralmente com a vida que receberam dos pais terão acesso ao melhor que a vida tem para lhes oferecer. Caminharão com passos firmes em direção aos seus destinos. Acolherão e serão acolhidos. Amadurecerão e estarão aptos a ter seus próprios filhos.